O Mendigo
Primitivo Paes
Tenho tanta liberdade,
Pouco me importo com isso,
Apesar de ser humano,
Vivo nos montes de lixo.
Falharam todos os planos,
Foram tantos os desenganos
E, com o passar dos anos,
Fui transformado num bicho.
Apesar de ser mendigo,
Não quero ser comparado,
Sou bicho com reticência,
Sou lixo em sociedade.
Assim vou vivendo, a esmo,
Paralelo com o lixo,
Eu conheço gente no luxo
Que são verdadeiros bichos.
Nem percebo o que se passa
Em torno do caminhar,
Andando sem rumo certo,
Não sei onde vou chegar!...
Procurando o que não tenho,
Sem saber se vou ganhar
E tanto faz ir para frente
Ou mesmo querer voltar.
Não sei se é desamor,
Cai o suor da minha fronte,
A longa curva da estrada
Perdida no horizonte...
Sigo a luta pela vida,
Errante, assim tão sofrida
Eu sou o Cristo da estrada,
À espera da cruz erguida.
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