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Primitivo Paes nasceu em Pernambuco. Viveu em São Paulo e mudou-se para o Rio de Janeiro. Pai de duas filhas e avô de três netos. É poeta, declamador. Formado como ator. Premiado e homenageado inúmeras vezes por diversas instituições. Prêmio Expressão Cultural 2006 da Coordenadoria Regional de Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro como melhor Declamador. Tem seus poemas publicados em inúmeras antologias em todo o Estado. Participação nas três últimas feiras da Bienal do Livro no Rio de Janeiro. Lançou em 2004 o livro “Livro de Poemas”. Já soma mais de 1000 apresentações em escolas, praças públicas e teatros em todo o Estado do Rio de Janeiro. Em 2007 apresentou-se ao lado de Poetas oriundos da Guiné-Bissau durante o X Fórum de Responsabilidade Social na FEUC, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Participou das XVI, XVII, XVIII e XIX edições da Semana de Letras da FEUC. Em 2009, participou da I Mostra de Poesia Brasileira de Maricá. Em 2008, participou de uma Exposição de Artes Plásticas e Poesias no Centro Cultural Ariano Suassuna, na Barra da Tijuca.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Jornais de época - citam Primitivo Paes















“A LUTA PELA SINDICALIZAÇÃO NA ALTA SOROCABANA” Voz Operária – 1949-1959 – Rio de Janeiro – Edição 162 – 1952 http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=154512&pagfis=1856&url=http://memoria.bn.br/docreader#

“O TERROR GETULISTA EM SANTO ANASTÁCIO” Voz Operária – 1949-1959 – Rio de Janeiro – Edição 162 – 1952 http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=154512&pagfis=1856&url=http://memoria.bn.br/docreader#

“OS AMERICANOS CONSTROEM MAIS UM RAMAL NA SOROCABANA...”
Por Primitivo Pais (sic) da Silva – Rancharia, [cerca de 590 km da capital São Paulo] São Paulo

“RECEBEMOS [...] Carta de Primitivo Pais (sic) da Silva sobre a situação dos presos. [...]”

VOZ OPERÁRIA - 07/4/1956 – Edição 360 – (1956, p.11) (matéria com foto da posse)

“TRABALHAR COM AS ASSOCIAÇÕES RURAIS”

Sobre José Honorato Lemos, cunhado de Primitivo Paes


Assim como após o nascimento de um filho surgem alguns "novos" problemas, tais como: onde a criança vai dormir? Compra berço? Onde colocar o móvel? Quem vai tomar conta do novo herdeiro? E a alimentação? E assim por diante. Com o "nascimento" de Mirante do Paranapanema aconteceu algo semelhante. A maior parte da população optou pelo nascimento do filho, o Município, e daí, junto com o presente, começaram as primeiras preocupações. Como fazer para que o recém-nascido cresça sadio, seguro e independente?
Na emancipação, como não poderia deixar de ser, era somente alegria, festas, muitos sonhos e esperança, afinal a população, principalmente a do Povoado, dava mostra certa do sucesso. Vendo aquela prosperidade da cultura do algodão, máquinas funcionando dia e noite, gente chegando em busca de trabalho para "ajuntar dinheiro com restelo", não se poderia esperar por uma outra coisa. É bem verdade que certas pessoas "sabidas e importantes" do Distrito de Costa Machado, não estavam gostando nada dessa história da criança nascer num determinado local e após o parto ela fixar residência definitiva num outro local. Ainda com mais um agravante, ser registrada com um nome totalmente diferente daquele "escolhido" por seus pais por ocasião de sua gestação.
Com tanta felicidade no Povoado e roças adjacentes, seus pais não "estavam nem aí" para com o desgosto de outrem, e suas preocupações agora eram outras, assumir a "criança", legalizar sua documentação e criá-la dignamente. Nessa busca inflexível não faltaram às pessoas de "boa vontade", sinceridade e coragem para o trabalho, mas junto a tudo isso eram imprescindíveis determinados conhecimentos no trato com os "negócios da lei".
Assim que a criança nasceu, " vieram ao mundo" também os primeiros problemas como já afirmamos, eles são inerentes nesse período pós-parto. Até hoje, cinqüenta anos depois, ainda se discute a real paternidade dessa criança, ou seja, quais foram verdadeiramente os seus "progenitores".
Tudo levava a crer que um "mar de rosas", ou melhor, de algodão branco, imediatamente inundaria aquele quarto onde deitava uma criança em berço esplendido, ou seja, num berço de ouro.
Ao longo dos tempos as "relações familiares" entre a criatura e seus criadores, Município e "gestores", nem sempre, por razões de ambição e ignorância, se pautaram pela veneração e respeito mútuo.
O orgulhoso pela libertação foi logo dando lugar a preocupação e a dificuldade que muitas vezes se apresentam na administração do sucesso. Isso não significa que sem a emancipação a situação seria melhor, entendo que esse foi um fenômeno natural pelo próprio desenvolvimento econômico e social do bairro e do Povoado.
Não foram poucas as dificuldades que os idealizadores e gestores da emancipação tiveram que enfrentar. Além da chamada regulamentação legal, que envolvia a desvinculação com o Município de Santo Anastácio, quando tiveram que arcar com todos os ônus da decisão tomada, havia ainda a necessidade da criação dos Diretórios dos partidos políticos, da formalização de candidatos as eleições, e múltiplas outras obrigações.

Diante do enfrentamento das dificuldades só faltava alguém querer encontrar como culpado de tudo isso quem construiu nesse local a primeira casa seis anos antes de sua emancipação, o Sr. José Honorato Lemos. Essa incriminação seria inconseqüente até porque esse pioneiro tinha sido assassinado por um policial, no Município de Presidente Bernardes, poucos meses antes da realização do plebiscito. O que dizer então do Sr. Manoel Rodrigues, que pioneiramente acreditando no futuro do Patrimônio, investiu suas sacrificadas economias da roça na compra de um pequeno lote de terra?

Um informe sobre José Honorato: vida e morte




SÁBADO, 29 DE MAIO DE 2010


Um informe sobre José Honorato: vida e morte

por Firmino Gomes da Rocha 
para o meu sobrinho Juracy 

José Honorato Lemos nasceu em 1919 em Mar Vermelho, no Estado de Alagoas. Filho de João Antônio de Lemos e de Dona Josefa Maria de Lemos.

Aos 20 anos José veio para São Paulo. Trabalhou na lavoura do Sítio Cerejas no município de Marília. De 1942 à 1944 foi plantador de algodão na fazenda Santa Amélia, no município de Pompéia. A essa fazenda ele chegou sem nenhum dinheiro, só com a coragem: era um jovem de 22 anos... Ali arrendou 3 alqueires de mata virgem, derrubou o mato e plantou a primeira roça de algodão, milho e mandioca. Deu certo: foi um bom ano o de 1943. Logo depois arrendou mais 8 alqueires de mata e plantou tudo: algodão, milho, feijão e batata inglesa. Mas dessa vez não deu certo, e perdemos tudo: deu uma doença na plantação (conhecida como “mela”). Foi um desastre total.

José não se abateu, foi em frente. Seguiu o mesmo caminho: deixou a fazenda Santa Amélia e partiu para as margens do Rio do Peixe no município de Rancharia na alta Sorocabana. Lá chegou sem dinheiro, mas com disposição e coragem. Arrendou 25 alqueires (ou 200 tarefas), derrubou tudo e a terceira roça estava formada.

Nessa época (do início de 1940 ao fim de 1944) estávamos juntos. Éramos ele, seu irmão Cazuza e eu. Também estavam o Raimundo Cearense, o José Nunes e o Pedro Cícero. Formávamos uma turma unida e confiável. Estávamos sempre dispostos ao bem, e para isso estávamos dispostos a enfrentar o que der e vier. Assim, praticávamos esporte: ginástica no campo de malha, boxe, pulo a distância e salto com vara. Também freqüentávamos os bailes no fim de semana.

José era um rapaz fantástico. Organizava todas as tarefas e tinha tempo para ler e escrever. Era forte em matemática e geometria. Tinha um respeito por todos nós. Ele era incrível! Nunca esqueci o que recomendava sempre: “Aqui nós nunca devemos nos envolver com mexericos e fofocas. Devemos, sim, ter condutas próprias: respeitar e retribuir a todas as pessoas – os vizinhos, as crianças, os mais velhos e as mulheres principalmente”. Dizia também que todas as pessoas devem se organizar, cuidar da higiene do corpo e da mente. Sempre nos alertava que o bolso não é cofre de guardar moedas e notas baixas (de um ou dois reais): elas deviam ser colocadas em cima da mesa, bem expostas, para o uso de todos e de cada um, quando precisassem. (O dinheiro de maior valor devia ser guardado.) Dizia também que o amor de pai e mãe, filhos e esposa deve ser amado para sempre.

Em novembro de 1944 viajei para o nordeste. Retornei para São Paulo em 1948. Então ele já era casado, morando em um arraial construído por ele, bem no alto de uma região coberta de palmito, árvores e água corrente entre as rochas. Foi no meio dessa floresta que José Honorato, Raimundo Cearense e o amigo Hirako Ocubo abriram uma clareira e constríram a primeira casa da região em 1946. Foi para lá que José, junto de sua esposa e o primeiro filho, se mudou.

Depois de alguns meses eles receberam a primeira visita. Eram dois amigos: José Quirino e Domingos Machado – dois ex-vizinhos lá do Rio do Peixe que resolveram acompanhá-lo e ali ergueram suas casas. Depois foram outros, e outros mais. De quando em quando chegava mais e mais gente. Com um ano depois já era uma cidadezinha construída de madeira e com ruas de terra: aqui e ali casas comerciais, uma igreja, um posto policial, uma farmácia, um dentista e um ônibus que fazia linha de lá à Santo Anastácio (a cidade mais próxima, cerca de 50 Km de distância). Hoje, 63 anos depois, o lugar é uma Cidade-Comarca: a progressista Mirante do Paranapanema, a princesa do oeste paulista, construída graças a um grupo de camponeses arranjados por ali e inteligentemente dispostos a trabalhar para o progresso do Brasil. Esse grupo era liderado por um jovem exemplar: o camponês José Honorato Lemos, incansável e batalhador – o “cara” da época.

Quando cheguei do nordeste já percebi algumas mudanças. José Honorato se tornou um homem politizado e consciente, um político da esquerda progressista, mas não radical. Conhecedor de direitos e deveres, acreditava estar no caminho certo, sonhava e lutava pela união dos camponeses e operários, e por essa causa lutou até sua morte, sem nenhum radicalismo.

Um episódio: em 1950 foi realizado um encontro de camponeses da região. Nos salões da cooperativa agrícola de Santo Anastácio o objetivo era reivindicar melhores preços para o amendoim e o algodão que tinha os preços bastante defasados, nesse encontro participavam os camponeses, os comerciantes, o prefeito, Sr. Toloza, e o vice, Sr. Luty. A igreja e os políticos da cidade, bem a tarde, antes de acontecer o inesperado, alguns telefones ao DOPS (departamento de ordem política e social de São Paulo) informando que centenas de comunistas estariam reunidos em uma cooperativa planejando um assalto a cidade de Prudente e outras, e depois tomar de assalto a capital de São Paulo e o Rio de Janeiro. Uma mentira que causou a invasão e morte de um sargento e as conseqüências foram desastrosas; o DOPS enviou um avião lotado de agentes armados até os dentes, eram de 4 para 5 horas da tarde quando um pelotão de policiais civis e militares comandados por um delegado do DOPS invadiram a cooperativa atirando para todos os lados: era fuzil e metralhadora atirando para o chão e para o teto e gritando: “seus pés-rapados, canalhas, vão morrer todos seus cambadas...”. Gritavam: “Canalhas, morram!” – e atiravam mais. Um sargento muito doido avançou e deu uma coronhada na cabeça do camponês Pedro Greco que se virou e revidou aplicando um golpe de caratê. O policial ainda tentou reagir, mas era tarde demais: o camponês aplicou um segundo golpe de caratê e tomou a arma em uma fração de segundos... O sargento estava morto, o camponês foi preso e junto com ele outros 13 colegas participantes do encontro, enquanto José Honorato, o vereador Nestor Veras e outros escapavam pela porta dos fundos da cooperativa. Umas 20 horas depois, eu e meu sogro, pai de José Honorato, fomos presos. O meu sogro foi liberado e eu fiquei preso por 48 horas. Como eu não tinha participado do encontro também fui liberado.

Após o encontro, José Honorato passou a viver na clandestinidade. A situação piorou ainda mais após uma visita de um grupo de camponeses famintos e desalojados que procuraram José pedindo orientação sobre o que fazer para salvar suas famílias – eles estavam amontoados na beira da estrada que liga Prudente à cidade de Pirapó. Era um grupo de 10 pais que caminharam a pé por mais de 120 Km em busca de uma solução, ou pelo menos uma orientação, para algo que pudessem fazer para salvar as famílias já prestes a morrer de fome e sede... Eram mais de 40 pessoas. José Honorato, após ouvir o relato teria aconselhado a irem até a fazenda mais próxima que pertencia ao Dr. Ramos solicitar algum trabalho e mantimentos (comida) para as mulheres e os filhos não morrerem de fome. Mas resolveram fazer diferente: o grupo foi para a fazenda do Dr. Ramos e levou milho, feijão, óleo, arroz, carne e mandioca – e aí todos puderam dormir uma noite em paz. Tudo aconteceu em uma tarde do mês de setembro de 1952. A polícia foi avisada. No dia seguinte foram presos e, mantidos sobre tortura, confessaram que foram orientados pelo camponês José Honorato Lemos... Com essa informação a polícia dobrou a vigilância numa perseguição implacável em todo o Estado de São Paulo. E assim foi até o desfecho final.

Em 23 de fevereiro de 1953, segundo os Jornais da época (“O Dia”, “Terra Livre” e “Notícias do Hoje” – todos de São Paulo), José se encontrava em Ameliópolis, um pequeno lugarejo nas imediações de Presidente Prudente. Ali fez algumas compras de mantimentos, o bastante para a semana: arroz, feijão, óleo, farinha e algumas coisas mais. Por lá ele demorou um pouco, batendo papo, jogando conversa fora. Nesse momento foi reconhecido por alguém... Percebendo isso tratou de ir embora. Caminhou por uma estrada de terra, carregando os sacos de compra. Parou em um boteco, tomou uma cerveja e continuou andando. Então percebeu que ao longe, bem distante e atrás, vinha um caminhão em disparada. Ele diminuiu a marcha. Quando o caminhão chegou mais perto, José Honorato desconfiou e deixou o leito da estrada, caminhando de vagar, com um chapéu cobrindo os olhos para não ser reconhecido. Percebeu o caminhão parar, ouviu o matracar das armas e em seguida os disparos: eram de 10 a 12 policiais disparando ao mesmo tempo. Ele caiu de frente para o chão. Só teve tempo de dizer: “sou um pai de família...”. Nada mais...

Fuzis e metralhadoras atirando a curta distância, à queima roupa. Os projéteis (balas) varando o corpo por todos os lados, coberto de sangue misturado com terra, farinha e óleo das compras. O corpo foi imediatamente enrolado com sacos de estopas, jogado em cima do caminhão que saiu em alta velocidade – era entre 17 e 18 horas. O corpo ficou escondido em Ameliópolis e enterrado na calada da noite pela polícia – segundo as informações de um jornal da época. Pois alguém observou tudo, deu o alarme e toda a imprensa, todas as rádios de São Paulo anunciaram e condenaram o bárbaro crime cometido pela polícia paulista. Houve protesto por toda a parte. Dias depois eu estava participando de um ato no centro do professorado paulista na Avenida da Liberdade em São Paulo. O presidente do sindicato, o jornalista Freitas Nobre, deu abertura a reunião. O professor universitário, intelectual, João Taibo Cadornega lembrou o nome do camponês assassinado pela polícia do governador Lucas Nogueira Garcez... Houve apartes sobre o assunto: falou a professora Dr. Helena Guimarães, a professora Ofélia Botelho e a professora Elisa Branco – todas da Federação de Mulheres do Estado de São Paulo. Elas condenaram a polícia como autora do bárbaro crime. A professora Elisa disse: “Com certeza houve mãozinha dos grilheiros da região que tem culpa no cartório...”. Alguns advogados, entre eles o Dr. Sandoval Peixoto e o Dr. Rio Branco Paranhos, bem como os Doutores Érico Magalhães de Prudente e Milton Pereira (de Santo Anastácio), todos juntos moveram ações condenando a polícia. Mas foi em vão: a polícia alegou que o camponês morto era um terrorista perigoso, um desqualificado. Com isso a polícia falou mais alto: no começo foi um barulho, mas no final foi um deixa-pra-lá. Ficou por isso mesmo.

Firmino Gomes da Rocha,

seu amigo, cunhado e amigo de todas as horas.





LIVRO: CLANDESTINO - EDGARD ALMEIDA MARTINS - 2010/2012 


O primeiro regional saído da conferência funcionou e se destacou pelas lutas e movimento de massas que realizou.

Foram enviados delegados à “Conferência Mundial de Trabalhadores Agrícolas e Florestais”, realizada na Europa, dentre eles José Alves Portela, lavrador, representando os trabalhadores organizados. Também foi
enviado um delegado ao Festival Mundial da Juventude o camponês de Mirante de Paranapanema, Primitivo Paes da Silva, cunhado de Honorato, que foi assassinado pelas costas por lutar ao lado dos camponeses pobres da região de Mirante e Santo Anastácio. Honorato foi uma das vítimas entre tantas do latifúndio, da desigualdade social, da propriedade da terra e da luta por ela.





Nesta altura dos acontecimentos, eu estava em Presidente Prudente. Aconteceu a conferência regional da Sorocabana, onde foi eleita a direção regional: Jurandir Guimarães “Rubens” - secretário político, Ernani Franco de Souza “Ernesto”- secretário de agitação e propaganda, eu, Edgard “Nunes ou Cid” - secretário de organização. Outros membros: Primitivo Paes da Silva “Jair”, José Alves Portela – Agrícola , Jonatas Pedrosa “Jaime”, Marina Paes - encarregada feminina, “tio João” Roberto. Foi um tempo de avanço do partido nessa região e de crescimento no movimento de massas. Surgiram associações femininas em Presidente Prudente, Assis e Ourinhos.


“Viúva de José Honorato Lemos escreve sobre as creches” (HEMEROTECA LUTA PELA TERRA – Jornal Terra Livre – Segunda quinzena de julho de 1954. - http://docvirt.no-ip.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=hemerolt&pagfis=4937)


Rancharia, Estado de São Paulo – Como são justas as creches! Sou filha de lavrador, vi como sofreram meu pai e minha mãe para criar a família. Precisavam trabalhar os dois e deixavam em casa as crianças. Eu e meus irmãos éramos todos pequeninos, nossa casa era um rancho coberto de sapê; de uma hora para outra corria o risco de pegar fogo. Minha mãe trabalhava longe de casa o dia inteiro pensando em nós. [...] Ao ler TERRA LIVRE encarei o debate sobre as creches e não pude me convencer de não escrever alguma coisa sobre o assunto. [...] A minha infância foi triste e até hoje não parei de sofrer. Não soube o que eram creches nem escolas. E assim como eu vivi, no tempo de menina, vivem hoje milhões de crianças brasileiras. Eu hoje sou viúva. O Governo mandou assassinar o meu marido porque lutava por creches para as crianças do Brasil. [...] As creches que o governo brasileiro dá às crianças é roubar-lhes o carinho paterno, como fez com meu marido José Honorato Lemos. Hoje em dia tenho os meus dois filhinhos e não tenho onde deixá-los. [...] Quanto seria bom se houvesse creches para eles ficarem entregues aos cuidados de pessoas responsáveis! Assim eu poderia trabalhar sossegada. Por isso eu agradeço de coração aos srs. José e Antônio Eduardo e ao José Alves Portella, Primitivo e Sra. Elisa Branco, e  peço a todos os leitores de TERRA LIVRE que escrevam sobre as creches e como vivem as crianças camponesas do Brasil.  (a) Marina P. Lemos. (Seção “Cartas da Roça”).


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Fotos especiais











Mais poemas de Primitivo Paes - POVEB 2009

Escuta Pai

Antes era você
Que ocupava meu espaço.
Não sei se o Senhor subiu
Ou desceu pro andar de baixo...
Lembro que o Senhor dizia:
Já tô sentindo o cansaço.
Tô igual cana caiana,
Quando passa pelo engenho,
Vira caldo, desaparece,
Só resta mesmo o bagaço.

A vida é um desafio,
Às vezes me embaraço.
O passado me ajuda,
Gosto muito do que faço.
Só não gosto de despedida,
Eu choro como palhaço.
Fico igual lua minguante,
Quando aparece no céu
Está faltando um pedaço!

Na grande estrada da vida,
Vou seguindo o mesmo passo,
Procurando a mesma trilha.
Com duas filhas, dois genros,
Três netos, que maravilha!
Me sinto realizado
Na construção da família!




Acordar

Acordo de manhã cedo,
Sinto um pouco de cansaço,
Vejo o pé de jenipapo
E sinto um cheiro de flor.

Caminho até a cozinha,
Vou preparar meu café,
Em pé, diante da pia,
Procurando o coador.

Ouço um cantar afinado,
De um pássaro desgarrado,
Das matas onde se criou.

É você, meu grande amigo,
Me deixa tão pensativo,
Meu bem-te-vi cantador!














Lembranças

Hoje acordei inquieto
Com as lembranças de outrora:
Minha mãe lá no terreiro
E eu olhando pra fora
Comendo, escondido dela,
Uma colher de açúcar.
Que era o doce da vida...
O que meus netos fazem agora.























Procura-se

Estou sempre me procurando
Penso, falo, olho e não vejo,
Ando falando sozinho
A procura de mim mesmo.

Procuro por toda parte
Meu jeito de ser, meu ego,
Será que eu me perdi?...
Ou estou procurando a esmo?

Estou procurando tanto,
Tantas vezes, tenho medo.
Quem me enviou aqui,

Não quer mandar o segredo,
Olho pro céu e pra terra,
Um dia serei rochedo!














Seu Poema
    
Eu quis fazer um poema
Que pertencesse a você,

Mas fiquei abestaiado,
Sem saber o que fazer.

Só foi dizer: “eu te amo!”
Ficou pronto, podes crer.

























Velhice

Quando você achar que está chegando...
No final da estrada é só escombros,
Transforme sua morte, num lindo pássaro
E coloque esse pássaro em seu ombro.


Quando se encontrar num beco sem saída,
Desesperado sem saber o que fazer,
Passe a mão na plumagem desse pássaro
Com certeza ele dirá o que você irá fazer.


No final da estrada, já cansado,
Você que era tão forte, cambaleia,
Siga adiante caminhando pela vida...
Olhe para trás, o seu rastro na areia.


São duas marcas, indicando para frente.
Siga a luta, quem é forte não bambeia.
Porque atrás, surgirá uma criança,
Para seguir os seus passos na areia.






Vou Deixar

Uma revoada de pássaros
Cantarolando em coro.
Minha linda mocidade,
Recordações do namoro,
Meu velho carro de boi
E duas lágrimas do choro.

As caminhadas que faço
Nas ruas do Rio da Prata,
Na Estrada do Cabuçu,
No compasso do condor.

Não sei por que as lembranças
Me dão uma grande sova...
E lá vem o choro de novo,
Com o Gueto de Varsóvia.

Já não consigo sorrir!
O humor traz outro lance.
Digo, com sinceridade:
“Só por que li um romance...?”
Estou chorando porque li
O Diário de Anne Frank.








Se Eu Soubesse...

Ah, se eu soubesse,
Quando menino,
Que Deus escutava a gente
E até prestava atenção.

Eu ia falar bem baixinho,
Bem perto do seu ouvido:
“O Senhor é tão querido,
Não briga comigo, não!

Já que o Senhor me fez Velho,
E eu adoro o meu povo...

Se eu voltar,
O Senhor deixa
Eu ser Menino de novo?...”

Meu Deus!












Para Você, Nilton Silva

Quando lembro de você,
A vida fica maneira;
O mundo fica melhor
E a História, sem coleira.

Naquela tarde bonita:
Eu, com aquela bandeja,
Na Academia de Letras,
Lembrando uma Vida Inteira.

A gravata pi-co-ta-da,
Que tinha sido emprestada,
Pertencia a Nilton Silva
E era de Manuel Bandeira!

















Bilhete

Deixei, em cima da mesa,
Um bilhete dizendo assim:
“Esconda-o quando encontrá-lo,
Leia com muito cuidado
E não mostre pra ninguém...

Assim que passar o tempo,
Lembre – é o nosso castigo –
Guarde o segredo contigo!
Guardarei o meu também.”

Desculpe a letra malfeita.
Não sei como consegui,
Num instante de emoção,
Não deu tempo pra mais nada!

Naquela grande escalada
Procurei por toda parte,
Achei o papel do pão!

Escrevi:
“Tchau e um beijo...
Voltar é o meu desejo

Não é despedida não!”

Mais um poema inédito de Primitivo Paes

DRAMA
Primitivo Paes

Até quando, minha gente,
Esse drama do Nordeste
Vai ter que representar?!
São mulheres mal vestidas,
São crianças desnutridas.
Esse calor incessante
E este sol inclemente,
Castigando sem parar

Não posso mais implorar.
Já rezei tanto, chorei,
Deus estava descansando,
Não ouviu o que eu falei.
Por isso peço desculpas
Pelos erros que são meus.
Não aprendi a rezar
E quem não reza direito
Acaba xingando Deus...

Agora já sou adulto.
Viver é coisa divina...
Enfeite nosso universo
Com flores, pão, chuva fina.
Mais chuva para o nordeste
Menos em Santa Catarina.

Perdão
Dois
Mil e

Oito.